terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Sem ritmo

Olhar fixamente para o nada e deixar a mente esvaziar
E isso me leva e eleva
Um pequeno grão de areia
Acolhido no infinito
Sem ritmo
Descompassado
Desequilibrado

Vem e vai
Sem tempo
Essa vontade de mergulhar
Permitir o ar se desfazer
Permitir o mar conhecer
Acolhido no infinito
Sem ritmo

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Contos da Noite - Estrada de terra

Em uma estrada de terra um caminhão leva de volta para casa trabalhadores rurais depois de um ardo dia nos canaviais, quando freia repentinamente. Os trabalhadores caem uns em cima dos outros e gritam furiosos com o motorista. Passado o susto e o momento de revolta, um silêncio profundo domina o local, nada se ouve além dos grilos e o vento soprando a poeira da estrada. Um dos trabalhadores, desce da traseira do caminhão para verificar o motivo da parada abrupta. Ao chegar na boleia é surpreendido pela ausência do motorista. O trabalhador grita avisando os outros companheiros, mas tem como resposta apenas um silêncio macabro. Um cala frio percorre todo o seu corpo. Ao voltar para a traseira do caminhão ele fica perplexo mais uma vez, pois todos ali estavam pareciam ter evaporado. Sem entender, ele olha para cima, para os lados, embaixo do caminhão e grita os nomes de seus companheiros. Por um instante ele pensa que aquilo possa ser uma brincadeira de mal gosto, mas com o passar das horas ele percebe que não se trata disso e o calafrio vai aumentando compassado com as batidas aceleradas do coração do trabalhador assustado. Ele tenta ligar o caminhão e sair dali, mas lembra que não sabe dirigir e depois de várias tentativas, a única coisa que conseguiu foi engasgar o caminhão. Sem muitas opções ele pegou um dos galões de pinga, seu facão e resolveu seguir a pé em direção ao ponto de ônibus. Fazendo sua mente crer, que os companheiros haviam feito o mesmo sem avisar. O caminho não tinha como errar, a estrada era reta e bastava prosseguir na direção que o caminhão estava apontando. Horas caminhando e nada de chegar ao seu destino, o trabalhador não entendia o porque, pois todos os dias ele fazia aquele mesmo caminho e segundo ele recordava não demorava tanto assim. A paisagem ao seu redor era imutável, um imenso mar de cana-de-açúcar que se perdia no horizonte. Depois de mais um tempo de caminhada e ele começa a avistar o caminhão novamente, por um momento até chegou a pensar que pudesse ser outro caminhão também com problema. Porém a esperança se transformou em desespero ao chegar mais perto e notar que era o mesmo que ele havia deixado a algumas horas. Ele cai de joelhos, solta o facão e o galão de pinga e faz o sinal da cruz. Encostado no caminhão e sem saber o que fazer ele toma algumas doses e começa a se questionar falando sozinho, quando percebe um caminho, que antes não tinha, aberto através da plantação e no seu final era possível ver uma luz que brilhava como a de um lampião. Nada mais fazia sentido para o pobre homem, sua cabeça estava confusa e quase em colapso. Ficou olhando para o novo caminho durante alguns minutos. Então encheu a tampa do garrafão com mais uma dose de pinga e virou, tampou o garrafão e se levantou. Apesar da noite fria, suas mãos suavam e pela testa enrugada escorria gotas de medo. Ele seguiu pelo caminho, que parecia ser a única forma de sair daquele pesadelo, que o levou a uma enorme clareira com um casebre, feito de barro e telhado de palha e galhos, no centro. Cercando a velha e humilde construção havia uma horta que para ele parecia de tomates. Através da horta um caminho de pedras negras como óleo de motor, levava até a porta do casebre. Conforme ele atravessava o caminho de pedras e olhava para os lados reparando na horta, percebeu que não eram tomates como tinha pensado, ele não conseguia identificar o que era, mas seja lá o que for eram as maiores e mais vermelhas frutas que ele lembre já ter visto. As frutas pareciam vivas e exalavam um aroma um tanto ácido. A poucos passos da porta ela se abre e uma estranha senhora com um borrifador para diante dele. Assustado ele levanta o facão em sinal de ataque. A velha apenas o olha por alguns segundos e passa por ele como se ele fosse apenas um fantasma, e começa a borrifar a horta. O trabalhador permanece paralisado com o facão ainda levantado e sem ao menos piscar. Aos poucos ele saía do estado de choque e com as mãos tremendo abriu o galão de pinga, mas dessa vez não colocou na tampa, e deu um longo gole que desceu queimando deixando no rosto uma expressão amarrada e contraída. Respirou fundo e deu outro gole, soltou o galão no chão e entrou no casebre, sem se importar com a velha que ainda borrifava a horta. Com passos cautelosos e o facão empunhado ele adentra o local. Um cheiro estranho o guia até um cômodo com a porta entre aberta, sua respiração fica pesada e ofegante e seu corpo começou a tremer tamanha a adrenalina que corria em suas veias. Quando terminou de abrir a porta do cômodo, se deparou com um matadouro. O motorista do caminhão e seus companheiros pendurados de cabeça para baixo, nus, escalpelado e degolados, como porcos para o abate, embaixo de suas cabeças baldes recolhiam o sangue que escorria. Ao ver aquela cena, ele vomita interruptamente. Quase sem forças para ficar em pé ele corre na direção da porta do casebre, porém entre ele e seu objetivo esta a velha, sem o borrifador, encarando ele sem expressão alguma. Seu desespero por um momento se disfarça de coragem e em uma descarga de fúria ele grita e desfere um golpe na cabeça da velha que permanece imóvel. Mesmo com a lamina do facão emperrada entre os olhos ela ainda continua a olhar para ele sem qualquer expressão. Ele solta o facão a empurra contra a porta. Ela cai, ele corre. Sem olhar para trás. As batidas do coração estão tão altas que é a única coisa que ele consegue ouvir, o suor frio e salgado do medo embaçam sua visão e o desespero aceleram suas pernas mais do que eles suportam correr. Ele tropeça e cai batendo a cabeça contra o chão, aos poucos sua visão escurece e apaga. Passada algumas horas ele acorda repentinamente gritando e se debatendo. Mas quando cai em si, ele esta novamente entre seus companheiros na traseira do caminhão. Todos o olham espantado pela recente reação dele. Finalmente chegam ao ponto de ônibus e todos embarcam. Sentado no banco do ônibus com a cabeça encostada no vidro da janela, olhando o céu estrelado com um sorriso de alivio no canto da boca ele repetia para si repetidas vezes: “Foi só um pesadelo”. Seus músculos aos poucos relaxam e dessa vez, ele cai em um sono tranquilo. Porém, uma brecada repentina o acorda novamente na traseira do caminhão e a sua frente apenas o caminho com a luz de lampião no final.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Aguardar o que guardo
Vem sempre de um resguardo
Levo comigo o que me ampara
Nada reparo

sexta-feira, 3 de maio de 2013


O quão pequeno sou
no mundo que acordei
apenas uma fagulha
Um suspiro de vontade
Desmamado e abandonado

Ainda sem resposta
Sem entender
O que significa amor
Desejo e desprezo

Deixo a intensidade me guiar
Embriagado e extasiado
Momentos preenchem lacunas
Curto é o tempo

segunda-feira, 4 de março de 2013


E temer o que a morte vem trazer
A curiosidade do que vem depois
Do que teremos que transpor

Calafrios
Quando penso em partir
A quem devo me despedir
Lagrimas de lamentação
Por quem fui

Me redimir
Do que deixei de fazer
De quem deixei de beijar
De dizer o quanto senti

Mas nada disso importa
Não mais
o que foi feito jamais será refeito

Serei o que sou
Até o dia
Que me cansar de sorrir
Até o dia que deixar de existir

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Celebrar


Somos filhos da alegria
Transformada em vergonha
Enquanto expomos nossas belezas
Como objetos sem sentido

Celebrar
O que nunca seremos
Usurpados e roubados
Jogados em uma arena
Enquanto nosso futuro é soterrado
Por confetes e sorrisos embriagados

Honra perdida
De uma nação
Que não liga para seus filhos

Festejar, festejar
Nosso silêncio amargo
Enquanto vemos tudo afundar

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Autor


Escrevo minha história
Minha pequena aventura
Em versos intermináveis
Busco palavras
E mais palavras
Para descrever o que vou viver

Apago e refaço diversas vezes
A cada experiência
Uma exigência
Talvez nunca termine o que comecei
Talvez nunca tenha nem começado
Mas quem vai saber?

Sou autor do meu prefácio
Deus dos meus pecados
Mas quem vai saber?

Impor e expor
Seu sorriso pintado
Seu sonho improvisado
Leva o título de sonhador
Pequeno impostor

Realidade desnaturada
Imatura e pura
Como uma criança
Que ainda crê em contos de fada

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O tempo


O tempo nunca regressa
Nunca se arrepende ou pede perdão
Apenas avança
Estação após estação

E nós ficamos
Como árvore dentro do furacão
Até que raízes enfraqueçam
Até que não haja mais força para permanecer

Somos apenas poeira
Lembranças que com o tempo nunca regressa
Apenas faísca lapidada em pedra
Enterrado no chão