quinta-feira, 14 de julho de 2011

Contos da Noite - Parte III - Fronteiras

Já fazia meses desde o acontecido no meu apartamento. Vagando pelo mundo, com minha nova família, não tínhamos fronteiras, nacionalidade ou mesmo uma casa. Eramos agora do mundo, pequenos e intensos pedaços de instinto selvagem, eramos a personificação dos desejos e pecados mais sórdidos. E não sentíamos vergonha disso. Inconsequentes a caminhar sem pensar.
Durante meses, dominava aos poucos meus novos sentidos. Porem quando ela chegava, tudo se perdia, a unica coisa que era possível ouvir era o pulsar de minhas presas, como um animal faminto entrava em frenesi até que minha fome fosse saciada. Impossível tentar resistir, impossível tentar mascarar. A partir do meu novo nascimento, minha natureza civilizada havia morrido, deixando revelar a real natureza humana : selvagem e predadora.
Meu novo pai, me ensinava sobre a humanidade, e com seus argumentos justificava que eramos a evolução da espécie os novos líderes da cadeia alimentar. Me explicou também, que a imortalidade era uma prazerosa ilusão e que deveríamos nos atentar, pois aquilo que nos alimenta também poderia nos matar, assim como a luz do sol ou a tristeza de viver em solidão. Nosso pai era muito velho e sábio, segundo ele, estava com 2000 anos, disse-me que é raríssimo a nossa espécie chegar a essa idade e que a pesar de todo o sentimento de poder somos mais frágeis do que possa parecer.
Pobre humanidade ele dizia, vivendo como gado, cercados e conduzidos pouco a pouco ao abate. Quando nascemos novamente, nos libertamos desse cercado e deixamos de ser gado para nos tornarmos lobos.
Conforme o tempo passava, meu olhar ia esfriando perante as pessoas. E como alguém que olha para um rato, eu olhava para os humanos. Seres fracos, vivendo amarrados e estagnados em sua própria ignorância de temer o desconhecido.
Começo a perceber como fica simples entender um jogo quando se esta fora, como simples observador. Todos os medos, angustias e parte de todas as duvidas, já não me afligia mais. Seria esse o real livre arbítrio que todos tanto se vangloriam ?
Viajamos para várias partes, caçando, se embebedando, prazeres nunca imaginados, um mundo totalmente novo e intenso. Mas uma coisa me intrigava, de todo esse tempo pelo mundo nunca havia me deparado com outros da minha espécia, é como se fossemos os únicos.
O tempo parecia não passar mais, quando me dei conta já faziam 4 anos desde meu nascimento. Havíamos chegado a uma das maiores cidades do mundo, chamada de São Paulo no Brasil um grande país na América Latina, meu pai particularmente gostava daquele lugar sombrio e acolhedor, era formado por várias partes do mundo, já fazia tempo desde sua ultima visita.
Resolvemos permanecer ali. Porque escolher aquela cidade dentre todas as outras que havíamos visitados ? Essa resposta só nosso pai tinha, como filhos sua vontade era inquestionável ... 

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