terça-feira, 19 de julho de 2011

Contos da Noite - Parte IV - Filha, Irmã, Amante

Outubro de 1920, mais uma noite como outra qualquer no jardim do Éden. Como minhas irmãs, era Eva convencendo mais uma vez Adão a comer o fruto proibido. Casa lotada, e madame Margareth com um sorriso contagiante. Finalmente é chegada a hora de subirmos ao palco e mostrar o que sabemos fazer de melhor. Passado o show vamos ao ataque. Prover o mais puro pecado aqueles que desejam provar. E la estava ele sentado, em um canto com pouca luz, várias garrafas do melhor whisky da casa vazias e seu cachimbo aceso, me encarava fixamente através da fumaça, seu olhar era irresistível e pela primeira vez naquela noite eu era a caça.
Conforme me aproximava, seu sorriso se revelava. Sentei-me ao seu lado, e sua mão acariciou meu rosto como nunca tinha sido acariciado. Seria sua com certeza. Beijou-me a mão e me puxou para dançar. E por um momento sonhava acordada. Não tinha como voltar. E eu não queria voltar. Subimos ao meu quarto. Em silêncio, seduzida apenas pela conversa de seus olhos.

- De todas as coisas mais belas que já pude tocar, com certeza nada se compara a você. Qual seu nome ?
- Elizabeth...
Consagrada a Deus. Que lindo nome. 


Olhava fixamente. E por mais que tentasse tomar  o controle. Era impossível.

- Elizabeth, você gosta dessa vida de carinhos superficiais, onde sua verdadeira beleza permanece adormecida ?
- ... não tive escolhas .... e ainda sim prefiro isso a viver o meu passado ....
- Vejo em seus olhos uma flor fechada pronta para desabrochar. Responda-me Elizabeth, se estender minha mão você a beijaria ?

Sua mão estava frente ao meus lábios. E por um momento fechei os olhos como se fosse meu primeiro beijo. Era fria. E ainda de olhos fechados sentia suas mão sobre meu corpo, em cada parte. Me acariciava, e tirava de mim prazeres nunca sentidos. Seus lábios deslisavam. E sua pele fria deixou de ser notada. Seria um sonho? Estava delirando ?
Quando uma dor aguda e intensa, rompeu aquele momento abstrato. Ele me segurava tão forte. Ao mesmo tempo que sentia medo aquilo me exitava, não sabia o que estava acontecendo. Fui perdendo as forças, cada vez mais fraca a cansada. Fechei os olhos.
Acordei tonta, tudo parecia vermelha e parecia estar embriagada de uma bebida amarga. Uma ancia de vomito, uma dor que me esfaqueava por dentro. E ele ainda estava lá. Sentado, sádico e nu com seu cachimbo aceso, observando enquanto eu definhava. Não conseguia gritar não conseguia me mover. Ele se levantou, me deitou novamente na cama e beijou-me na testa. Novamente meus olhos se fecharam.
Já se passaram tantos anos e seus olhos ainda me fascinam. Me sinto segura, e serei dele eternamente. Como um pai tem me ensinado, como irmão me protegido e como amante me amado.

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