quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Lua Vermelha


Nunca fui bom em começar histórias. Meu pai certa vez me disse sentado em sua cadeira enquanto enrolava seu fumo: "Filho, eu não dou a mínima para o caminho que escolher, mas por favor apenas escolha um". E foi exatamente o que eu fiz.
A vida que tinha já não fazia parte de mim, algo me incomodava, algo se tornava cada vez mas inquieto e precisa se libertar. Então naquela noite veio o sinal que eu tanto pedia, avisando que aquele era o momento que esperava. Dormindo em minha cama, acordei com o bater de asas e quando abri os olhos vi que uma coruja havia pousado no parapeito da minha janela na hora me assustei com aqueles grandes olhos amarelos me observando, mas passado o susto me sentei na cama e fiquei olhando ela enquanto um silêncio nos envolvia.
Passados alguns minutos ela abriu as asas e começou a batê-las de forma brusca, aumentando cada vez mais a velocidade, as coisas no meu quarto começaram a cair como se um redemoinho estivesse ali. Não conseguia me mover e na tentativa de acordar, do que pra mim era um sonho, esfreguei os olhos e quando tirei as mãos dos olhos vi que a coruja tinha sumido, com ela toda minha casa. Tudo havia desaparecido e só meu quarto ainda estava de pé no meio de um imenso campo iluminado por uma lua vermelha. O que tinha acontecido? Estava prestes a descobrir.
Levantei da cama, me vesti, peguei minha mochila, coloquei algumas trocas de roupa e sai em direção a lua no horizonte. O campo que estava era uma planície vasta, com uma grama azul escura e sem nenhuma árvore. Algum tempo caminhando avistei um pequeno lago de águas cristalinas e uma rocha branca no meio. Me aproximei, tirei a mochila das costas, abaixei, enchi as mãos com aquela água cristalina e tomei. Estava fresca e enquanto a tomava uma brisa soprava em meu rosto, ao mesmo tempo que escutava uma harpa tocar, um som delicado e aconchegante, naquele momento fechei os olhos, deitei na beira do lago e aquele  som me abraçou. Perdi a noção do tempo, via estrelas passando, me sentia flutuar. Quando despertei do transe, havia alguém na pedra e estava olhando para mim. Assim que me sentei percebi que era uma mulher muito bela de pele azul clara e cabelos cacheados cor de prata que iam até a cintura, me olhava com seus olhos cor rubi, com uma certa curiosidade, apesar de nua de certa forma não me chamava atenção, pois conseguia apenas contemplar aqueles olhos cor de rubi.  Então ela finalmente disse:" Há muito ciclos que viajantes não vem aqui. De onde você é jovem viajante?".Respondi:"Não sei, apenas acordei aqui, mas quem é você?".Ela sorriu, fico em pé na pedra e mergulhou no lago, nadou até a margem e caminhou em direção, em pé e olhando para mim sentado ela se abaixou passou a mão em meus cabelos, me beijou na testa e estendendo a mão ela disse:" Vamos, quero que veja algo". Sem questionar correspondi o gesto e segurei sua mão, confiava minha vida a ela.
Continuamos caminhando até que chegamos a uma clareira, sem alguma grama. O solo dessa clareira era forrado com uma areia amarela que brilhava como uma jóia e então ela parou e disse:"Chegamos, é aqui. Você esta pronto?". Eu balancei a cabeça afirmando, apesar de não saber para o que eu deveria estar pronto. Ela se abaixou e começou a comer a areia descontroladamente, assustado fiquei parado sem reação, passado certo tempo ela parou e me olhou novamente com aquele sorriso no rosto e de joelhos ela abriu os braços, seu corpo começou a se contorcer e raízes rasgavam sua pele, aos poucos ela se transformou em uma arvore. Apesar da cena perturbadora eu permanecia calmo.
Ela se transformou em uma grande arvore com o tronco azul claro e as folhas prata. O tronco se abriu e uma passagem se revelou. Sem um caminho para escolher, eu apenas escolhi seguir em frente. 

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