segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Contos da Noite - Parte VI - Pai, Despertai - ATO I

Nosso patriarca tem nos guiado em caminhada a vários dias, sem dizer uma palavra. Quando indagado o que esta acontecendo e para onde estamos indo, ele apenas nos olha com aqueles olhos e continua andando. Já se passaram 8 luas, nossa água e alimento estão se esgotando, se continuar assim todos perecerão. Na décima lua ele parou e mandou que levantássemos acampamento pois finalmente havíamos chegado onde a lagrima dos Deuses havia caído.
Depois que tudo estava pronto nos reunimos em volta da fogueira para ouvir a sabedoria de nosso pai. Foi quando nos disse:
" É chegada a hora meus filhos, os deuses finalmente mandaram seu sinal e nossa família foi escolhida. Não temam, não exitem. Pois feita a vontade daqueles que nos criaram, nada nos faltara. Eu pude ver, eu pude sentir sua presença. Agora repousem pois amanha quando a mãe noite o céu iluminar seremos ascendidos pelos Deuses."
Na noite seguinte, ele reuniu os mais bravos e fortes guerreiros para irem de encontro aos Deuses. Enquanto o resto da família esperava em volta a fogueira eles partiram. Conforme chegavam perto, perceberam que ali havia uma caverna aberta pela força da lagrima dos Deuses. Sem exitar nosso pai desceu caverna a dentro. Conforme chegávamos perto uma presença nos invadia, sentíamos uma paz nunca sentida antes, então uma luz forte como o sol  nos cegou durante um tempo, foi quando a paz se transformou em dor. Como se um animal estivesse nos atacando, de nada adiantou minha força.
Acordamos algum tempo depois, nosso corpo doía, e adormecemos novamente. Quando nos levantamos novamente já era noite, saímos da caverna em direção ao nosso acampamento, conforme nos aproximávamos percebíamos um silencia mórbido e quando finalmente chegamos, tudo havia sido destruído, havia sangue para todos os lados e moscas, até nossos animais haviam sido degolados e estripados.
Sem saber o que havia acontecido, olhamos para nosso pai esperando uma direção ou explicação. Paralisado apenas atravessou o acampamento e prosseguiu andando. Continuamos atras dele, andamos durante toda a noite, me sentia fraco e faminto, o sol ja estava nascendo e seus primeiros raios tocavam a areia, foi quando uma dolorosa surpresa surgiu. Conforme os raios batiam em minha pele queimavam como fogo em desespero corriamos em busca de abrigo, alguns de nosso grupo não aguentaram a dor e cairam gritando enquanto o sol os consumia aos poucos. Foi quando em uma ação desesperada, usei todas minhas forças e comecei a cavar, cavar, cavar. O sol imponente me castigava, então me joguei em minha cova e me enterrei, mesmo assim algumas partes do meu corpo não conseguiram se salvar e queimaram. Quando o sol se foi, sai de minha cova, a dor era insuportável meu braço estava totalmente carbonizado. Gritava pelos outros com a voz rouca e fraca, minha garganta arranhava de cede. Percebi em minha volta esqueletos com alguns restos de carne queimada, eu era o único.
Sozinho, fraco e deformado, me arrastei pela areia até que minhas forças se esgotaram. Quando acordei estava em um acampamento, pessoas conversando em um idioma desconhecido, estava enfaixado e com algumas ervas nos ferimentos. Perdi a noção do tempo que estava ali e meus ferimentos não pareciam melhorar. Pessoas conversavam comigo, mas nada entendia. Só conseguia pensar naquela fome insaciável nem mesmo a dor sentia mais.
Parecia que meu corpo estava desistindo, não o sentia mais, respirava com dificuldade e mal abria os olhos. Foi quando na minha ultima noite, algo chegou naquele acampamento, gritos de dor, de raiva, crianças chorando, pessoas correndo, o que seria ? um família rival ? saqueadores ?
E de repente um silêncio. Apenas o vento soprava la fora. Uma sombra se aproximava de onde eu estava. Cada vez mais próxima. Quando de repente a mesma luz da caverna invadiu a cabana. Sentia paz. Talvez já estivesse morto e os Deuses estariam vindo me buscar. Fechei os olhos estava pronto.
Gotas começaram a pingar no meu rosto, e aumentavam de velocidade e intensidade. Entrando entre meus lábios. Que gosto era aquele ? Que sabor, nunca havia sentido aquilo, meu corpo estava enchendo-se de vida, um prazer inigualável. Com a boca aberta me saciava e me deliciava com aquele líquido divino. Quando abri os olhos, o choque, um bebe degolado estava sendo segurado por aquela figura sem distinção, mas de infinita beleza. Estava nua, coberta em sangue, segurando o bebe como um animal. Quando percebeu que estava olhando deu um sorriso e soltou o bebe em cima de mim, e novamente a luz e a paz encobriram o lugar e ela sumiu.
Em um impulso faminto me alimentei daquele bebe, enquanto minhas ultimas lagrimas caiam, ali deixava a minha humanidade.....

Nenhum comentário:

Postar um comentário